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OPINIÃO: O que o sol faz com as flores

Este é o título de um dos livros mais lidos em 2018. Por estar no topo dos mais vendidos, chamou a minha atenção. Porém, ao buscar o livro tive minha primeira surpresa: a capa é triste. Preta, com um desenho de uma flor que parece um girassol murcho, na cor branca, sem qualquer ponto a chamar a atenção do leitor. O único colorido do livro está no nome da autora e numa referência a outra obra sua. Aí, me questionei: como um livro com uma capa sem muitos recursos visuais podia chamar tanta atenção dos leitores? Seria o título? Sabemos que o marketing para a venda inicia pela aparência, o que não era o caso com esse livro. A minha atenção, como disse, foi chamada pelo fato de o livro estar na lista dos mais vendidos, mas até ele chegar nesse patamar, teria que percorrer um longo caminho, ainda mais sendo um livro de poemas que, de regra, tem uma clientela diferenciada. O livro foi escrito por Rupi Kaur, que é uma poetisa indiana de 20 e poucos anos, radicada no Canadá.

Seu primeiro livro, "Milk and Honey", caiu no gosto popular e é considerado o maior best-seller de poesias dos últimos anos. Só no Brasil já vendeu mais de 100 mil cópias. O que o sol faz com as flores é seu segundo livro de poemas e está dividido em cinco capítulos que relatam a jornada percorrida pela autora, que é semelhante ao de uma planta que murcha, cai, cria raízes, cresce e floresce, até encontrar um lar dentro dela mesmo. No capítulo "murchar", ela fala dos fins dos relacionamentos e de todo o sofrimentos envolvido. No "cair", discorre sobre a aceitação corporal e da perfeição imposta pela sociedade. Em "enraizar", fala sobre a família, as tradições e a vida como imigrante num novo país. No "crescer", revela aspectos como a aceitação, o amor próprio e os novos relacionamentos. E, no "florescer", traz a reflexão sobre a vida e a espiritualidade. São cinco fases distintas que representam o crescimento pessoal e o caminho trilhado pela autora.

A escrita é simples, não parecem poemas. Mas simplicidade não é sinônimo de não ter significado ou pelo fato de apresentar estrutura diferente do tradicional ter sua importância reduzida. É certo que forma e conteúdo são importantes, mas que também devem se adaptar aos novos tempos. Mas o livro é, com certeza, diferente do que estamos acostumados a ver em livros de poemas. O que chama a atenção, e talvez seja esse o seu diferencial, é a capacidade da autora de expressar em poucas palavras sentimentos que precisariam de muitas páginas para serem explicados. Ela tem um jeito firme de expressar suas ideias e opiniões. Ela vai direto ao ponto. Sua linguagem é forte e impactante. Ela aborda com simplicidade assuntos tão latentes como a imigração, refúgio e infanticídio feminino.

Ela fala de ancestralidade, da honra às raízes, da expatriação, do crescimento e do amadurecimento. Após ler o livro, uma coisa fica muito clara, a capa é a expressão muda da sua essência e os temas nele abordados são tão frequentes na vida das pessoas que torna impossível não nos identificar com alguns deles. Talvez porque fale a língua de milhares de mulheres que ainda sofrem em silêncio é o que faz o livro ser um sucesso. Talvez porque ele mostre que o centro de nossas vidas sejamos nós mesmos, sugerindo que não devemos ser como os girassóis que, por adorar o sol, quando ele nasce se erguem, quando ele se vai, baixam a cabeça, deixando a tristeza tomar conta de suas vidas. Ou talvez porque ele mostre que mesmo que estejamos sem esperança, sempre é possível juntar os cacos e transformar a dor em poesia.

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